Me afasto do cais e começo a minha viagem. Navego nos acordes de “Renascer” e me perco entre as teclas de um piano em plena meditação. Não sei se os cisnes cantam, mas Ninah me faz lembrar um cisne bailando em noite de lua. Meu barco continua a flutuar em sua voz. De repente ancoro em outra mansidão e mais uma vez navego na emoção de “Vera Cruz/O Que Foi Feito de Vera” e a vida agora cabe na palma da minha paixão. É pura poesia em melodia. Já não sei se navego ou voo, só sei que ando sob o céu de Ninah e aprendo “Como Sonhar-me” e me perco nas cordilheiras da música como um condor nos Andes. E nessa viagem de estrada sem fim, a música toma conta do meu coração e de repente trilho os “Caminhos de Mim” perdido entre estrelas cadentes penduradas na partitura da vida. Ah! Ninah, por que só conhece a liberdade quem conhece uma prisão? Acho que por isso teimo em cantar a vida, mesmo que o poema seja um bandoneon chorando um poema entre “Dolores sin Soledad” e minha alma acredita que no meu peito americano o coração transborda em amor e lágrimas. E anoitece em meu poema. À média luz, sou as mesas e as cadeiras de um “Cabaré” escondido por entre os muros de uma rua escura da alma. E o meu poema vira um estranho cordel, “Meu Cordel”, onde sangro, choro, sofro, faço jus à dor e mesmo assim, descubro que o meu dom é o som da luz de Deus, a luz que que vem da voz de Ninah, que mesmo quando parece lamento de cruz, canta que nem rouxinol do sertão. Minha viagem continua. Já passei pelo mar, pelo deserto, pelo sertão da vida. Agora a moça enxuga as lágrimas do cordel e se veste de menina. Passa batom, põe seu melhor vestido e mostra que a “Mãe de Menina” se reconhece na menina que canta a sua sina. A menina solta a voz sem medo. Seu canto é grito de coração, é a primeira metade de eternidade sem fim dentro de mim e eu me perco nos seus “Olhos de Nunca Mais” como se a música fosse eterna. E mesmo que a canção muitas vezes seja solitária como um “Leopardo” lutando contra seus fantasmas, há um outro lado mais forte, que sabe remar contra a maré, uma “Fruta-Mulher”, que soube amadurecer o seu canto guerreiro e vive por aí, doida varrida de tanto cantar, voando sobre o mundo como um “Urubu- Mestre do Voo” em dia de sol, sem medo de enfrentar as tempestades do tempo. Ah, Ninah! Como eu amo teu canto! Eu quero sempre um quilo mais daquilo, é disso que eu preciso. Quando te ouço, “Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua”, porque teu canto me faz feliz, hoje, sempre e “Amanhã”, para sempre, a luminosidade há de imperar, porque enquanto houver teu canto em minha vida, o dia vai raiar e será pleno.
Marco Dualibe